9 de jun. de 2012

Pe. Paulo Ricardo: vinte anos de Sacerdócio... e perseguições!

Por Jildonei Lazzaretti

No próximo dia 14 de junho de 2012, o pe. Paulo Ricardo de Azevedo Júnior completa vinte anos de sacerdócio. Este sacerdote, ordenado pelo então Papa João Paulo II, é uma figura emblemática dentro do clero do Brasil, uma vez que obteve uma grande ascensão “midiática”, principalmente através da rede mundial de computadores; e também devido à sua defesa veemente da fé católica.

Christo Nihil Praeponere - Nada pode antepor-se a Cristo

Durante a maior parte de seu ministério pe. Paulo Ricardo atuou na formação de sacerdotes, seja como reitor, diretor espiritual ou professor. Certamente, possuir uma boa formação é um pressuposto básico para quem deseja formar e instruir. O Currículo de pe. Paulo Ricardo, em âmbito acadêmico, não é muito expressivo: possui formação em Filosofia, Bacharel em Teologia e Mestre em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade Gregoriana. No entanto, qualquer um que o escute por alguns minutos, percebe que ele possui um conhecimento amplo da doutrina da Igreja Católica, bem como vastos conhecimentos teológicos e filosóficos. Sempre que analisa alguma realidade ou argumento a fim de combatê-los, pe. Paulo Ricardo brilhantemente vai à raiz da questão, parte dos pressupostos que fundamentam tal acontecimento ou discurso, a fim de mostrar a insuficiência do mesmo. Já quando procura explicar alguma realidade, doutrina ou posicionamento da Igreja, novamente ele busca mostrar os porquês: por meio do sentido etimológico, de razões históricas, de significações espirituais, de observações da sociedade, etc. Aliada a esta metodologia muito eficaz e convincente, o padre também possui uma retórica admirável, que serve de modelo para muitos, pois ele não tem apenas uma “boa lábia”, mas em seu discurso há uma harmonia proporcional entre conteúdo, tom de voz, expressão facial, expressão corporal, pausas planejadas, olhares, etc. Ou seja, ele é um exímio formador, pois possui: uma grande bagagem de conhecimento (e é perceptível que ele se atualiza constantemente), a qual sustenta o conteúdo de seu discurso; um método muito eficaz que facilita a aprendizagem, mesmo por parte de quem não possui muitos conhecimentos acerca do assunto que ele esteja abordando; e uma retórica muito convincente que atrai seu interlocutor para dentro de sua argumentação.

Como formador, pe. Paulo Ricardo possui um único intuito: ser fiel a Cristo e à Sua Igreja. Duas frases basicamente resumem seu ministério e sua missão: Christo Nihil Praeponere (Nada pode antepor-se a Cristo); e uma célebre frase do Cardeal Von Balthazar, “Cristo disse aos discípulos: ‘Eis que vos envio como ovelhas no meio de lobos’(Mt 10,16). Deveríamos meditar sobre esta comparação, antes de fazermos um pacto com o mundo”.

Mártir da Verdade e “Profeta Natã” da atualidade


Por ser uma figura pública, pe. Paulo é motivo de contestações e críticas dentro e fora da Igreja. Porém as críticas mais notórias partem de dentro da Igreja: alguns tradicionalistas o consideram heterodoxo e muito flexível em suas posições; já os progressistas o veem como um “problema” para a Igreja do Brasil acusando-o de causar divisões e de semear a discórdia.

Este último grupo, no mês de março deste ano, enviou uma carta aberta aos bispos do Regional Oeste 2 da CNBB, por meio da qual realizaram um bombardeio de acusações a este sacerdote sem apresentarem provas, pediram de forma infantil e ilusória o afastamento do pe. Paulo Ricardo da formação nos seminários e a proibição de participar de programas televisivos e de continuar atuando na internet. Como estes sacerdotes “revolucionários” querem pregar “a opção preferencial pelos pobres” dando-lhes “voz e vez”, combatendo a “opressão” e consumando assim a “libertação”, se eles mesmos estão oprimindo seu irmão no sacerdócio e querendo calá-lo? Aparentemente, por ter cessado o barulho dos “Che-Guevaras de estola”, a carta aberta parece não ter prejudicado o pe. Paulo Ricardo. No entanto, sabe-se que, nos bastidores da vida eclesiástica mato-grossense, vem ocorrendo articulações para prejudicar, mesmo que parcialmente, o apostolado deste sacerdote. Um dos meios encontrados para prejudicá-lo foi a sua demissão* do Studium Eclesiástico Dom Aquino Corrêa, SEDAC, onde estudam os seminaristas das dez dioceses do Mato Grosso. Assim, pe. Paulo Ricardo, exímio formador, perderá um dos seus espaços de formação (infelizmente, é só questão de tempo para isto se consumar). Pode-se assim considerar o pe. Paulo Ricardo como um verdadeiro mártir da Verdade: não sofreu um martírio por derramamento de sangue, mas vem sendo martirizado por meio de perseguições ideológicas e de retaliações institucionais.

Surge assim a pergunta: por que esta perseguição ao pe. Paulo Ricardo? A resposta é simples, mas ao mesmo tempo complexa. O conteúdo que permeia e sustenta as palestras e formações do pe. Paulo pode ser sintetizado em uma palavra: conversão. Conversão esta que se aplica a todo povo de Deus (Cf. Lumem Gentium, 13), inclusive o clero. Ele tem pregado a conversão em âmbito intelectual e espiritual, e consequentemente na dimensão moral. Ele alerta para a insuficiência da Teologia da Libertação, com seu “novo jeito” de fazer Teologia, cujo método filosófico é extremamente incoerente com a fé católica. Ele afirma que a Teologia da Libertação é uma apostasia, pois quer reinterpretar todas as verdades de fé sob um prisma marxista (que é intrínseca e necessariamente marcado por um humanismo ateu e por um espírito revolucionário). Dando prioridade a este novo método de se fazer teologia, chegou-se à negação de conteúdos da fé ou da distorção dos mesmos: sacrificou-se o conteúdo da fé, em nome de um método filosófico-teológico, de uma simples ideologia. Negando a legítima fé católica, este novo método ignorou o pressuposto de que “a teologia se faz de joelhos”, ou seja, que para se fazer teologia é preciso primeiro ter fé. Consequentemente, muitos seminários foram se tornando “cemitérios de fé”, onde o jovem que aspira ao sacerdócio se “liberta” da ingenuidade e forma um “espírito crítico”.

Assim, por pregar a conversão também ao clero, pe. Paulo Ricardo acabou cutucando o vespeiro. Pode-se aqui fazer uma alusão à figura do profeta Natã, que repreende o Rei Davi acerca de seu pecado, alertando-o sobre o fato de ele ser um ungido do Senhor e de estar desprezando e traindo a confiança de Deus (Cf. 2 Sm, 12, 1-15). Mesmo sendo Rei, Davi admite: “Pequei contra o Senhor!” (Cf. 2 Sm, 11). No entanto, os “Reis Davis” da atualidade não reconhecem seus erros, não admitem que precisam se converter. Para justificar sua falta de conversão, eles procuram caluniar e perseguir o profeta Natã da atualidade, afirmando que ele é desequilibrado, frustrado, mal-resolvido, etc. Acusam pe. Paulo Ricardo de promover a divisão e a discórdia dentro da Igreja, impossibilitando a comunhão na Igreja do Brasil. Porém, a verdadeira comunhão deve ser feita com a Igreja Católica Apostólica Romana que perdura há dois mil anos na História, e não somente com a Igreja do Brasil hoje.

Portanto, o intuito deste artigo é parabenizar o pe. Paulo Ricardo por seus vinte anos de ministério sacerdotal, manifestando o mais sincero apoio ao seu apostolado, por meio do qual ele demonstra que “o sacerdote não é simplesmente um homem, mas o sacrifício de um homem”. Este artigo não quer ser um “grito dos excluídos”, mas deseja também ser uma forma de manifestação perante as autoridades eclesiásticas do Brasil (e mais especificamente do Mato Grosso), afirmando que uma Igreja que quer ser profética deve primeiro aceitar dentro de si mesma a profecia, reconhecendo sua falhas e limitações, para, a partir delas, recomeçar. É necessário também afirmar que as retaliações institucionais que serão realizadas contra este sacerdote não surtirão nenhum efeito positivo, pois a semente já foi lançada: de dentro dos seminários, ainda surgirão muitos “profetas Natãs”, que hoje precisam sabiamente ficar calados, mas que com perseverança se tornarão grandes sacerdotes fiéis a Cristo e à Sua Igreja.

Nosso agradecimento ao autor pelo envio do artigo.

* Segundo nos foi informado, os bispos do Mato Grosso consentiram em demitir o Padre Paulo Ricardo do Studium Eclesiástico Dom Aquino Corrêa, SEDAC, onde estudam os seminaristas das dez dioceses do Mato Grosso. Pe. Paulo já teria sido comunicado, no entanto, isso ainda não foi divulgado oficialmente e o próprio Pe. Paulo Ricardo ainda não se manifestou de forma oficial (veja o post Sobre a demissão do Pe. Paulo Ricardo).

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